3 de outubro de 2011

Concurso NFF IV: "Siren Song"

Título: SIREN SONG
Autor: FABINHO
Categorias: Concurso NFF IV/2011, Casais Inusitados; Slash M/M; Saga de Poseidon + Prólogo do Céu
Advertências: Nenhuma
Classificação: PG-13
Capítulos: one-shot
Completa: [x] Yes [ ] No
Resumo: O jovem Sorrento de Sirena recebe a visita de um anjo do céu enquanto toca sua música.
N/A: Tive a ideia para esta fanfic a partir do mito de Ulisses (tambem chamado Odisseu), que foi o primeiro homem a sobreviver ao canto das sereias. Em CdZ, os personagens Sorrento e Odisseu não têm QUALQUER ligação e, que eu saiba, ainda não fizeram nenhuma fanfic ou fanart dos dois juntos; por isso, aqui se tornaram um "casal inusitado".




Siren Song



Era setembro, final do verão na Campânia, e o vento fresco começava a dar sinais de um frio que se esperava para logo. As nuvens brancas, porém carregadas, recobriam o céu como uma manta de algodão, tão macio que dava até vontade de tocar, sobre o vasto mar cor de cobalto. Do outro lado, erguia-se o agora sereno Vesúvio, sinônimo de morte e de renascimento. O quadro natural levava qualquer um a um momento de introspecção e recolhimento.

Sozinho, no alto de um promontório, sobre elevados penhascos feridos por vagalhões espumosos, um jovem delicado tomou-se de inspiração e sacou a flauta, pô-la transversalmente ao rosto e encostou o lábio inferior no orifício do bocal, posicionando os dedos longos sobre as chaves do instrumento.

Soprou o ar sobre a embocadura, conseguindo um som longo e grave, aveludado como a própria natureza do musicista. Seu nome era Sorrento, o mesmo do lugar em que ora se encontrava, no sul da Itália. Fora educado nos melhores conservatórios de música clássica do mundo, em Viena, mas sempre tivera o desejo de conhecer a terra das mitológicas sereias, Sorrento, onde havia um templo antigo dedicado a elas, e que, se dizia, o herói Odisseu conseguiu a façanha de sobreviver ao irresistível canto dessas bruxas do mar.

Costumeiramente, o jovem Sorrento trajava sua armadura de escamas de oricalco, entre douradas e alaranjadas, que ele considerava a mais bonita dentre as dos generais-marinas, a tropa de elite do deus dos oceanos, Poseidon. Suas partes mais características eram o longo saio metálico que descia até os joelhos e, às costas, asas de penas compridas, como as autênticas sereias deviam ter. Bem diferente do que a maioria acredita, as sereias da Antiguidade não eram mulheres-peixes, mas mulheres-aves, também conhecidas como sirenas, emplumadas do busto para baixo, aladas, mas possuíam a cabeça e os braços humanos, necessários para cantar e tocar os instrumentos musicais que tanto amavam, e com os quais encantavam os marinheiros que viajavam desavisados por aqueles promontórios da Campânia. Presos ao som da música sedutora, caíam vítimas do “canto da sereia”, até arrebentarem suas embarcações nas pedras, quando então serviam de banquete para aquelas criaturas eternamente famintas de carne humana.

Histórias de uma época que não existe mais, pensava Sorrento, desejoso do retorno do idílico passado. Por esta razão se aliara às forças de Poseidon, que lhe prometeu o fim desse mundo sujo e depravado. Com sua música, Sorrento ajudaria o grande deus a purificar a humanidade, exterminando todos aqueles que não servissem aos propósitos de renovação da Terra, após um dilúvio universal como aquele de Deucalião e de Noé.

Era nisso que o jovem acreditava. Era isso que o seu coração puro mais queria.

Continuou a tocar seu instrumento. Os lábios logo se tornaram vermelhos com o esforço, que nele parecia não existir, contrastando enormemente com a pele muito clara e o cabelo de fios finos. Ah, se esse mundo lhe era tão belo aos olhos, imaginava como seria depois que fosse instalada nele a sua tão sonhada Utopia...

Num movimento dos dedos, um agudo potente e brilhante; mudam-se as chaves, graves de difícil emissão.

Sorrento era um virtuose da flauta e, não por menos, fora escolhido pelo deus dos mares para encarnar o espírito das sirenas, pois a música fala à alma, transcende o corpo e as emoções. Por meio dela, impérios foram eternizados. Por meio dela, o império dos deuses será uma realidade neste mundo.

De repente, seus olhos encarnados miraram de novo o céu, e, de entre as nuvens enroladas, uma figura planou, e algo como asas luminosas ajudavam-no a descer, abertas.

– Um anjo... – balbuciou Sorrento. Logo ele se animou ao distinguir quem era. – Odisseu! – Sim, ele o conhecia.

Poderia a música da flauta de Sorrento chegar até o céu e fazer um anjo descer à Terra somente para escutá-la?

Odisseu lhe sorriu ao pousar os pés no chão. As asas de luz desapareceram, mas o brilho cálido de sua armadura sagrada, a glória, permaneceu. Com um pedido sem palavras emitido pelos olhos, rogou para que o mortal não parasse, que continuasse com o concerto particular.

E Sorrento prosseguiu, para deleite do anjo e também para a sua própria satisfação pessoal.

Somente uma criatura celeste para apreciar a sua arte, sem o risco de morrer. Porque a música de Sorrento é assim, é a última coisa que você vai ouvir antes de deixar este mundo. Êxtase? Dor? Não... Somente a alma que não aceita mais permanecer aprisionada num invólucro de carne quando escuta o doce entoar do cosmos, chamando-a para a liberdade.

Odisseu permanecia em silêncio, prostrado de joelhos atrás do flautista, a cabeça baixa. Sorrento, o único ser sob as nuvens capaz de arrancá-lo do convívio dos deuses. O único a quem o orgulhoso semideus se permitia ouvir.

Quietude. O General-Marina de Sirena até chorou, emocionado por descobrir alguém que podia ouvi-lo e não abandoná-lo – com medo, com dor ou sem vida. Tirando o imperador Poseidon, Odisseu foi o primeiro. E o que pretende o Destino ao pôr no seu caminho alguém com o mesmo nome do herói que sobreviveu ao canto das sereias? Aliás, seria aquele anjo o próprio que um dia ousou deixar a Grécia e lutar em Troia, abandonando a mulher e o filho recém-nascido, para somente depois de vinte anos retornar? O que venceu Circe, os ciclopes e até Cila e Caríbdis, elevado aos céus pela graça de algum deus? Seria o mesmo Odisseu-Ulisses que agora retornava para encarar novamente a sirena e, ao contrário, deixar-se ceder aos encantos da feiticeira emplumada?

Tantas perguntas Sorrento tinha vontade de fazer... Mas agora não era o momento para elas. O anjo continuava ao seu lado, dócil, esperando para continuar ouvi-lo tocar.

Também se diz que uma sereia vive apenas até o momento em que alguém pode ouvi-las e sobrevive. Seria aquele o fim de Sorrento, então?

Que fosse! Não seria belo morrer num momento como aquele, quando o anjo o fez sentir, pela primeira vez, algo próximo ao... amor?

Não... Não era possível que aquele tenha sido o primeiro encontro da sirena com Odisseu...

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