6 de janeiro de 2011

Toy Story 3


Toy Story 3 transcende as meras imagens da película.

O filme da PIXAR segue a proposta de uma história protagonizada por brinquedos, e se mostrou uma série de sucesso. Mais voltada para o público infantil, ela tentou manter o foco do público-alvo; entretanto, seria desnecessário dizer que os adultos de hoje não perderiam o filme por nada.

Aliás, Toy Story 3 conseguiu êxito no que se propôs a fazer: uma história para crianças, mas que fosse contada no ensejo de acompanhar as mudanças que aconteceram nos interesses dos primeiros espectadores, do primeiro filme. As crianças cresceram, Toy Story também.

Desde o início, percebeu-se que os filmes trariam uma mudança gradativa. O primeiro filme girava em volta de questões básicas, como a chegada de um novo brinquedo. O segundo já tratou das questões da pré-adolescência, cuja consequência foi o abandono de Jesse e Bala-No-Alvo por sua dona. Já o terceiro... Bem, o terceiro trata de assuntos bastante avançados para um filme infantil.

~ Para iniciar, temos o conflito de um adolescente prestes a ir para a faculdade, que precisa decidir a melhor maneira de colocar um ponto final nessa etapa da vida e virar a página. E foi por esse enredo que toa a história se desenvolveu.

~ Outro tema pontual nessa história foram as cenas pesadas. Uma sucessão de acontecimentos geradores de suspense – problemas um após o outro: na hora da fuga, Woody e outros são deixados para trás, quase pegos pelo Bebezão; são surpreendidos por Lotso na fuga, mas dão um jeito nele; no entanto, Lotso puxa Buzz e os outros vão ajudar, fazendo todos caírem no lixo; eles se recompõem, mas logo surge mais lixo sendo jogado em cima deles; eles se juntam de novo, mas acabam caindo no lixão; quando tudo parece dar certo, um trator os empurra para a esteira de triagem, mas eles se salvam e caem do outro lado do triturador; no entanto, a caldeira de icineração está bem próxima, e Lotso foge. Só aí, é que eles podem respirar aliviados.

~ Uma sátira à máfia e ao crime organizado, como alguns podem ter percebido. O grande urso Lotso, traduzido muito bem pelo conceito dos brinquedos de Bonnie, é um tipo bonachão e com cara de bondoso, mas que tem um coração amargurado pelo sentimento de abandono e acabou submetendo todos os brinquedos de Sunnyside ao seu “reinado ditador” – como os grandes e poderosos chefões da máfia. Procedimentos bastante conhecidos, como tortura, interrogatório e coerção psicológica estão presentes, porém figurados nas ações dos brinquedos. O estratagema de Woody, bastante intrincado, lembra muito os melhores filmes e séries que representam esse estilo de fuga.

~ Relacionamentos amorosos: Não é de se estranhar que, no segundo filme, os relacionamentos ainda ficaram um pouco de lado. As principais cenas shippers até o filme 02 se resumem apenas ao beijinho de Betty em Woody, e, é claro, nas engraçada vida do Sr. e da Sra. Cabeça de Batata. No entanto, nunca havia tido nada como no terceiro filme. Contando, por alto, momentos shippers, temos cinco:

è Buzz & Jessie: desde a cena “posso me apertar com você, Buzz?”, imaginei que algo interessante aconteceria entre os dois. É claro, são brinquedos, mas no decorrer das cenas notei que a presença de um relacionamento entre eles serviria para reforçar a ideia de que Woody poderia deixá-la nas boas mãos de Lightyear;

è Sr. & Sra. Cabeça de Batata: eles são casados, e se amam. Mas o conceito que Andy dá para eles, ao final do filme, é o golpe certeiro para o coração shipper;

è Barbie & Ken: esperava-se isso: o boneco como a realização dos sonhos da Barbie, mas vindo do “lado escuro da força”. No final, eles ficaram juntos e viveram felizes para sempre;

è Woody & Betty: a curta passagem em que o caubói se lembra da tenra pastora de ovelhas foi a conta para deixá-lo nostálgico, pelos momentos que passou com ela;

è Trixie & Rex: a tricerátops fêmea demonstrou afinidade para relacionamentos, ao demonstrar que batia papo com outros brinquedos da vizinhança, e ao final se mostrou bastante à vontade com o dinossauro bobalhão.

~ Questão de gêneros: eles também foram explorados – sutilmente, é claro – no filme. O personagem de Ken, metrossexual perdidamente apaixonado pela Barbie, não deixa de escapar alguns trejeitos e ouve brincadeirinhas dos amigos na roleta. Além disso, temos a cena da carta redigida por ele, mas que os brinquedos confundem com a letra da Barbie, e o momento em que o Traça dos Livros acha que a pessoa vestida na roupa de astronauta é Ken, e faz cara de desprezo ao ver que “ele” está de tamanco.

Se vocês não pensaram em tudo isso, pensem: Toy Story 3 não é um filminho inocente.

Acho que seria loucura tentar comentar as partes engraçadas. Toy Story 3 é completamente engraçado, do início ao fim – digo, quando as cenas se propõem a isso. A versão “latina” de Buzz, a dança entre ele e Jessie no final, a cena de Woody e o cachorro do Andy, a personalidade dos brinquedos da Bonnie... Mas o que marcou mesmo o filme foram as situações de preocupação e sofrimento: as várias vezes em que Woody teve que abandonar os amigos por um bem maior, a necessidade de escolher entre o que achava certo – e isso se refletiu em Andy também, ao ter que se deparar com a pergunta a respeito do melhor destino para Woody.

Me surpreendeu:
- Lotso não ter apertado o botão. Geralmente, vilões de filme infantil se redimem no final e salvam o mocinho. Mas esse não;

- A verdadeira resignação nos brinquedos que não foram escolhidos para ir para a faculdade com Andy. Eles realmente não se sentiram tristes por serem esquecidos, estavam tranquilos quanto ao seu destino e apenas desejavam o melhor para Woody. Não podemos dizer que isso aconteceu apenas pelo fato de que esse é um desenho de criança, pois desde o primeiro Toy Story temos a presença de sentimentos negativos, como inveja, rancor e egoísmo;

- O fim que Lotso levou. Em filmes infantis, geralmente o vilão vira bonzinho, se arrepende e passa a ser o maior benfeitor do grupo. Ele não teve o mesmo destino;

Não me surpreendeu:
- Dez segundos após ter notado que os irmãos alienígenas haviam sumido de cena, e ao ver que os outros brinquedos já haviam se entregado ao “destino”, eu sabia que os responsáveis pelo salvamento seriam eles;

- O final. Por mais que eu tivesse achado, realmente, que o filme se prestaria a um fim inovador, e que partiria o coração de muitas crianças – e adultos -, preferiu-se manter a união e deixar todos os brinquedos juntos. Afinal, seria injusto que apenas Woody fosse à faculdade com Andy. Seria ruim até para ele mesmo.

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